quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Roda de Verão 2020


Piedade é o nome de um bairro de Salvador (Bahia) com uma bela praça e que ficou eternizada numa cantiga de Capoeira cantada por Mestre Gildo Alfinete: “Quem quiser me ver, vá na Piedade amanhã...”.
Tal qual na Bahia, por aqui também existe uma Piedade e o nome completo é Armação da Piedade, em Governador Celso Ramos. Naquele local houve uma armação baleeira de extração de óleo pelos escravizados no século XVIII. Inclusive existe ali um cemitério com centenas de ancestrais africanos e indígenas descobertos em sambaquis.
Nesse espaço de grande importância histórica acontecerá a Roda de Verão do Projeto Capoeira na Escola. Será no próximo sábado (1º/02), às 16h30, em frente à Igrejinha da Armação da Piedade. A participação é livre.
Antes da roda, às 15h30, acontecerá uma apresentação na programação de verão da Prefeitura de Governador Celso Ramos, nas proximidades do posto de guarda-vidas da Praia de Palmas.



quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Mensagem

Martin Luther King Jr. e a corredora de Biguaçu.
Por: Fernando Bueno (Mestre Tuti)

           Eu senti no meu organismo os benefícios da corrida de rua faz uns cinco anos, mas confesso que, mesmo treinando capoeira, jiu-jitsu e musculação há décadas, correr é uma atividade um tanto quanto sofrida para mim. Caso não existisse o prêmio do prazer das endorfinas pós-esforço, certamente eu já teria parado de correr.
        Embora já tenhamos participado de algumas competições, eu e minha companheira (Lelê) temos a autoconsideração de sermos amadores dos amadores. Não temos pretensão, nem genética e nem idade para competir para vencer uma prova, muito menos de vivermos somente para este esporte viciante. Por outro lado, o fato é que, mesmo que despretensiosamente, fazendo sol, chuva, frio, calor, estamos rotineiramente treinando nossas corridas.
         Dia desses, feriado numa quinta-feira, o treino programado era o de fazer tiros de 1km com uma velocidade maior do que a objetivada para uma prova. São estímulos que fortalecem a resistência à velocidade, ou seja, quando correr no ritmo de competição (meta pessoal), o atleta conseguirá manter esse ritmo por mais tempo. O local escolhido foi o belo Loteamento Deltaville, em Biguaçu (Grande Florianópolis - SC).
           Nos intervalos dos tiros, um breve descanso e avistávamos uma senhora com passada firme, não muito rápida, mas contínua. Falamos juntos: “Essa é corredora!”. Coincidentemente, terminamos nosso treino e quando estávamos nos dirigindo ao carro, ela estava chegando ao dela, estacionado em frente ao nosso. Para descontrair, perguntei se por hoje bastava de treino. A conversa pegou e ficamos uns quarenta minutos ali, entre endorfinas, risadas e aprendizado.
        O nome dela é Elza. Havia acabado de correr 10km como último treino “leve” antes de sua primeira maratona, a ser disputada no domingo seguinte, em Florianópolis. Isso, por si só, já impressiona, pois como diz o doutor e corredor Drauzio Varella: “Maratona não é para aventureiros”. Acontece que ela já havia participado de mais de vinte meia-maratonas e mais de duzentas provas no total. Sente-se: em menos de cinco anos! Portanto, ela estava longe de uma aventura, e, em vez disso, muito perto da realização de um sonho a ser conquistado com muito suor.
         Fazendo um paralelo aos treinos de Capoeira, sempre uso o discurso aos meus alunos de que é melhor continuar, mesmo que esporadicamente, do que parar por completo e depois tentar retomar. O retorno é muito mais difícil do que o começo de aprendizado de qualquer modalidade. Envolve muito desprendimento em aceitar que seu corpo não é mais o mesmo; que vai demorar a ter novamente as habilidades e qualidades físicas que tinha; que os colegas de treino desenvolveram muito e que agora não é possível acompanhá-los na mesma intensidade de antes; além das dores, que o iniciante empolgado nem sente, mas o veterano...
         De volta ao tema, decidimos assistir à maratona no domingo para testemunhar a almejada conquista. Em torno de quatro horas depois da largada, num sol escaldante das onze da manhã, entre inimagináveis diferentes expressões faciais de pessoas completando os mais de 42 quilômetros, lá vinha ela: correndo com um olhar sereno de quase sorriso, introspectiva e sozinha, a poucos metros de me fazer entender ainda mais a frase do pacifista pastor, que trago para minha vida e tento passar aos meus:

“Se não puder voar, corra.
Se não puder correr, ande.
Se não puder andar, rasteje,
mas continue em frente de qualquer jeito.”

Depois de presenciar aquela chegada emocionante, cada dia que a preguiça bate, e eu a venço, lembro-me de agradecer em pensamento à Dona Elza e ao Nobel da Paz, Martin Luther King Jr.