Cotas: mais um argumento
No Brasil, século
XIX, a proibição do acesso de negros à educação foi uma ação do Estado. Em
Santa Catarina, as normativas da província, porém, não proibiam o ingresso dos
negros livres, que oficialmente deveriam estar inclusos na obrigatoriedade do ensino,
instituída em 1874. Mas, apenas a cor dos africanos e descendentes já poderia
“induzir qualquer pessoa a tomá-los por escravos”.
Se o Estado foi
capaz de negar o acesso ao estudo em determinada época, é justo que agora
promova ações de reparação histórica.
Xenofobia
Assistindo a um
documentário sobre a Praia do Rosa, Imbituba, fiquei pensativo com a fala de
uma das entrevistadas. Ela, gaúcha de sotaque carregado - assim como a maior
parte das pessoas que povoaram aquela região -, dizia “- Antigamente que era
bom; não havia tanta gente como agora. Podíamos surfar com tranquilidade. Mas,
fazer o quê, né?”. A fala dela denotava uma apropriação como se fosse alguém
nascido e criado ali, e como se todos os que vieram depois fossem forasteiros,
indignos de usufruir aquele espaço, promovedores da perda da tranquilidade
local.
Da mesma forma,
vejo a polêmica da chegada de Haitianos a Florianópolis. Quem hoje esbraveja
contra não pode se esquecer de pesquisar sua árvore genealógica, o que
certamente o levará a uma população de imigrantes. As exceções são para os
Índios, que são os únicos nativos das terras brasileiras, e para negros e seus
descendentes, pois estes não vieram como imigrantes; mas, sim, trazidos à
força.
Os registros em
livros de história e jornais de época não relatam descontentamento das pessoas
que já moravam no Brasil quando da chegada de Italianos, Japoneses, Açorianos,
Alemães, Árabes etc., ambos vindos em busca de uma melhor condição de vida, tal
qual os Haitianos. Pelo contrário: há inúmeras festas que relembram a chegada
daqueles imigrantes; são frequentemente temas de samba-enredo de grandes
escolas do Rio de Janeiro e São Paulo; há cidades que parecem uma miniatura dos
seus países de origem; há dias nacionais, estabelecidos em Leis, relativos a
tais imigrações.
Em conversas com
comerciantes locais e pessoas ligadas à prestação de serviços, ocorre a
constatação da falta de mão de obra para atender as necessidades de suas
empresas. Por que não preenchê-las com os novos imigrantes, já que os jovens
moradores da região buscam outras qualificações e empregos?
Há até colunista
social propagando erradamente que o Haiti fica no Continente Africano e sendo
contra.
Desespero
deflagrado pelo sofrimento, é o que se descobre com uma breve pesquisa para se
entender o contexto da vinda dessas pessoas. Zilda Arns morreu no mesmo
terremoto que devastou o Haiti, e, no mínimo em honra a ela, essa causa
humanitária precisa de engajamento e compreensão; não de xenofobia.
Roda
Na
próxima quarta-feira (03/06), véspera de feriado, haverá roda em frente a
Igreja de Santo Antônio de Lisboa. Será às 22h30.