Reunião do Colegiado de Mestres
No próximo sábado, acontecerá mais um encontro do Colegiado de
Mestres de Santa Catarina. Será em Itajaí, às 14h.
Convênio 2016
Está tramitando entre a Prefeitura e a Câmara de Vereadores o
projeto para que seja firmado o convênio para aplicação de aulas de Capoeira em
Biguaçu.
Mais informações em breve.
Roda de
Verão
Toques de berimbau da Capoeira Regional:
Amazonas
* Em
relação à origem do nome, Mestre Nenel afirmou que Mestre Bimba não deixou nada
registrado e nem falava sobre as nomenclaturas que usava; mas, certamente, não
foi uma homenagem ao estado do Amazonas;
* Neste
toque não há cantigas;
*
Raramente era tocado, e as poucas vezes que o Mestre Bimba tocava era para uma
auto-satisfação ou para jogo de capoeiristas veteranos, por ser um toque com
uma cadência diferente, portanto, difícil de demonstrar uma harmonia entre
jogadores e o ritmo quando o jogo era de iniciantes;
* Não era
exclusivo para jogo de formados (Iúna sim) e nem para recepção de convidados;
*
Atualmente, há quem faça uso do toque para jogo com imitação dos movimentos dos
animais da floresta amazônica, mas isso não faz parte do trabalho de Mestre
Bimba;
* O toque
do pandeiro é diferente dos demais toques da Capoeira Regional.
Toques de
berimbau da Capoeira Regional: Banguela
(Revisão de texto:
Chamada na ‘Benguela’)
Fui a um evento de um amigo de longa data e vivenciei, pela
segunda vez em todos os meus vinte e sete anos de capoeiragem, alguém fazer uma
chamada (passo a dois) no toque de ‘Benguela’. A primeira vez foi há uns vinte
anos; na época eu não tinha o senso crítico de hoje, tirei uma onda do camarada
e ficou por isso. Agora, nessa segunda vez, não posso me furtar de escrever
algumas reflexões, sob pena de ser conivente com as diversas reações dos
capoeiristas também presentes e de negar o meu convívio com a Turma de Bimba.
Após um tempo de andamento, o toque pedido para a bateria foi
“Benguela”. Os instrumentos estavam dispostos da seguinte forma (dir. p/ esq.):
agogô; atabaque; três berimbaus e dois pandeiros. Houve uma rápida troca de
informações entre os componentes da bateria, pois quem estava no berimbau grave
(Berra-boi) é defensor da Capoeira Angola; portanto, distanciado por opção de
um toque derivado da Capoeira Regional. Vendo o impasse, alguém disse: “É o toque de Angola com mais uma batida da
nota presa (com a pedra).”.
Parece uma pergunta batida, mas é necessária para esse texto: “É Banguela ou Benguela?”. Mestre Toni
Vargas sugere, em seu último disco, perguntar a Seu Bimba. Sintetizo
essa sugestão no fato de olhar a capa do disco de Mestre Bimba - Curso de
Capoeira Regional - e constatar que ali está escrito “Banguela” (com ‘a’).
Alguns até cometem a injúria de dizer que Mestre Bimba queria dizer “Benguela”,
mas não o fez por questões de dificuldade de pronúncia. Mestre Bimba, com a
assessoria de seus alunos universitários, que dialogavam até sobre a melodia e
o encaixe das letras nas quadras, permitiria um “erro gráfico” em seu disco?
Penso eu que não. Assim, para o Mestre e criador do toque, era Banguela mesmo.
Mestre Nenel, confirma e acrescenta que o toque de Banguela não é
“o toque de Angola com mais uma batida da
nota presa”; demonstrando, com fidelidade ao disco, a base do toque como
sendo: “um chiado, uma solta (sem a
pedra) e apenas uma presa (com a pedra)”. Segundo ele, desde que seja
harmonioso com o que está na gravação de Mestre Bimba, tudo o que vem além da
base citada seria variação do toque criado por seu pai.
A visão holística de Mestre Nenel permite afirmar que o toque de
Benguela (com ‘e’) até existe, mas que não foi criado por Mestre Bimba. Alguém
misturou o toque de Angola com variações da Banguela; permitiu tocar numa
bateria; e, para completar denominou a sua criação de Benguela.
Vale destacar que os toques da Capoeira Regional – Banguela,
Idalina, São Bento Grande, Amazonas, Iúna, Santa Maria e o Hino - são tocados
apenas em charanga: um berimbau e dois pandeiros.
A Capoeira é essencialmente dialética e dinâmica; e por ser uma
manifestação que se espalhou pelo mundo muito recentemente, recebe milhares de
análises em seus diversos aspectos – teórico, técnico, didático, tático,
filosófico etc. - e cada uma delas baseada na realidade de cada norteador de um
trabalho (entenda-se: Mestre, Professor, Instrutor etc.). Até aqui, vemos a
fortaleza da Capoeira: a junção dos diversos pontos de vista que fazem com que
ela não seja monopolizada em única verdade; e, sim, descentralizada em diversas
faces de uma mesma manifestação. O que não é salutar é a imposição de uma
verdade em detrimento de outra, gerando a perda de criatividade e a
estabilização dos conhecimentos.
Desta forma, é difícil dizer que algo é errado na Capoeira. Como
“condenar” (com risos, espanto etc.) o cidadão que fez uma chamada no toque de
“Benguela” tocado numa bateria de Capoeira Angola? Eu prefiro deixá-lo com a
sua verdade.