Zumbi está em cada
um de meus atos
Hoje é o Dia da
Consciência Negra. Pelo fato de ser um dia de agenda lotada, não consegui
escrever algo novo sobre a data. Mas, nas escolas e Universidades, nas
conversas, demonstrações de Capoeira, palestras, constatei que os argumentos
contrários também são os mesmos. Logo, resolvi fazer uma compilação de algumas
discussões feitas em nosso grupo de estudos virtual relevantes ao dia de hoje.
Algumas
das falas levantaram o nome de Morgan Freeman, que discursou em vídeo
contra a Consciência Negra; outras, contra as Cotas; e ainda, sobre a questão
eleitoreira na criação de um feriado em homenagem ao líder quilombola.
Sobre
Morgan Freeman
Morgan Freeman é
um excelente ator, mas não sente a necessidade da oportunidade de discussão que
a data oferece por ser milionário; logo, as agruras sofridas pelos negros
pobres dos guetos americanos não afetam alguém com o perfil sócio econômico
dele. A cor dele passa a não mais ser percebida. Quanto mais rico, menos será
visto como negro pelos outros e por ele mesmo. Dinheiro e
invisibilidade são antônimos.
Quando ele
pergunta "qual é o mês da consciência branca?", a resposta é fácil:
todos os outros onze meses do ano, já que o que domina nas Américas é o ideário
eurodescendente.
Sobre
o argumento de que somos todos iguais
A diferença já
existe e só não vê quem não quer. Datas como essas são vitais para a discussão
dos problemas e para lembrar de Zumbi e sua luta. O termo Consciência Negra é
simbólico e veio somente na década de 1970. Portanto, não esqueçamos que mesmo
sem os problemas étnico-raciais, Zumbi sempre deverá ser lembrado.
Os pobres
não-negros também sofrem, claro; mas, a possibilidade de ascensão é
maior. Não podemos esquecer que 70% das pessoas que vivem abaixo da linha de
pobreza são negras, que, antes das Cotas, não chegava a 10% o número de negros
nas Universidades; que a população carcerária é formada por 60% de
afrodescendentes; que os maiores salários são dos homens brancos; que quem mais
sofre no atendimento à saúde é o negro etc. Isso tudo sendo o 2º país em
quantidade de habitantes negros no mundo (1º é a Nigéria).
Sobre Cotas
Cota
de acesso à Universidade não é benefício; é reparação histórica; é justiça.
Findará quando existir equidade étnico-social no Brasil.
Nos
Eua, as ações afirmativas mudaram pelo fato de que, em 40 anos, a classe média
negra quadruplicou.
Não há como tratar igualmente os desiguais. E essa é a
premissa das Cotas nas Universidades.
Sobre o feriado
O
dia 20 de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra por lembrar de Zumbi
dos Palmares, que foi esquartejado em praça pública por ter lutado a favor da
justiça, liberdade e igualdade do povo negro. Não é uma data que foi criada por
políticos safados para ganharem votos; mas, sim, fruto da militância negra
ancestral para que as pessoas tenham um mínimo de consciência social e histórica
do Brasil.
Aliás,
por que as associações comerciais não batalham também para derrubar o feriado
de Tiradentes? Ou dos feriados da Igreja Católica? Nosso Estado é laico ou
eclesiástico?
O Brasil possui onze feriados nacionais;
destes, seis são ligados às datas sagradas da Igreja Católica e cinco são datas
cívicas. Quando se cogita um (apenas um) feriado relacionado a um
herói que fuja do etnocentrismo imperialista – como se pode ver nas
qualificações dos feriados – ou a datas específicas de outras
religiões, a guerra estará armada.