Na época do alvoroço da votação sobre a
Constitucionalidade das Cotas nas Universidades públicas do Brasil eu ouvi e li
muitos absurdos. Quem participou dos debates conheceu um pouco mais da natureza
humana naquele momento. Hoje, face às frequentes cenas divulgadas nas
diferentes mídias, de pessoas amarradas em postes, parafraseio o escritor
português, Alexandre Herculano, pois quanto mais aprofundo-me no conhecimento
dos sentimentos e dualidades dos homens mais estimo os bichos.
Que a nossa Justiça é lenta é
verdade, mas uma máxima do Direito é imaculada para pessoas com certo nível de
sanidade: “um erro não justifica outro”. Já fui assaltado e furtado, e, de
fato, a vontade que surge é a de externar a agressividade. Porém, somos humanos,
e pelo pacto social baseado na ética e na moral, não podemos deixar com que
todas as nossas vontades venham à tona. Credenciamos instituições que nos
representam em diferentes momentos e ao conjunto delas damos o nome de Estado.
Se essas instituições se atrasam, erram, ou são injustas, cabe uma assembleia
geral para definir o seu destino. O que não podemos é definir por conta própria
e individualmente o que é certo e errado.
Sobre esse tema, um comentário
sintetiza a opinião de muitos que são simpatizantes da barbárie contra
barbárie: “a imprensa em geral e os
direitos humanos estão sempre de plantão, defendendo os criminosos de forma
incondicional”. Em contraposição, escrevo algumas reflexões.
Eu não vivi na época das cavernas, em que a lei que
valia era a do “olho por olho, dente por dente”; não fui espectador dos
programas sensacionalistas exibidos em praça pública para as famílias
eurodescendentes no Brasil-colônia: o chicoteamento de cativos no Pelourinho;
não assisti aos apedrejamentos descritos na Bíblia, às câmaras de gás nos
campos de concentração e às fogueiras de mulheres exóticas consideradas
bruxas. E considero-me muito feliz por
não ser testemunha ocular de nenhuma dessas situações. Portanto, a minha defesa
não é para os criminosos – julgá-los e puni-los é papel do Estado -; mas, sim,
em prol dos cidadãos que também não querem conviver com imagens nefastas que
parecem ressurgir do passado e ter que achar que isso é normal.
O delator do Mensalão, Roberto Jefferson, condenado
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está com a prisão decretada, mas
enquanto o mandado não chega à sua casa ele anda de Harley Davidson sob os
olhares da Polícia Federal. Como se não bastasse, seus advogados pedem,
judicialmente, autorização para o uso de mais de vinte tipos de medicação e de
alimentação balanceada com itens como salmão defumado e geleia real. O que impressiona
é o fato de que quando Roberto Jefferson voltava do seu passeio de moto havia
uma pessoa o esperando para doar cem reais para a “vaquinha” que ajudará o
corrupto a pagar a multa de setecentos e vinte mil reais estipulada pelo
Supremo Tribunal Federal. Ninguém o esperava para amarrá-lo no Pelourinho do
século XXI. Claro, ele não faz parte do perfil de quem sempre esteve às
margens; ontem, amarrados nos troncos, e hoje, nos postes.
Por: Fernando Bueno (Tuti)
Especialista em
Educação Especial
Mestre de Capoeira