quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A volta do Pelourinho


Na época do alvoroço da votação sobre a Constitucionalidade das Cotas nas Universidades públicas do Brasil eu ouvi e li muitos absurdos. Quem participou dos debates conheceu um pouco mais da natureza humana naquele momento. Hoje, face às frequentes cenas divulgadas nas diferentes mídias, de pessoas amarradas em postes, parafraseio o escritor português, Alexandre Herculano, pois quanto mais aprofundo-me no conhecimento dos sentimentos e dualidades dos homens mais estimo os bichos.
            Que a nossa Justiça é lenta é verdade, mas uma máxima do Direito é imaculada para pessoas com certo nível de sanidade: “um erro não justifica outro”. Já fui assaltado e furtado, e, de fato, a vontade que surge é a de externar a agressividade. Porém, somos humanos, e pelo pacto social baseado na ética e na moral, não podemos deixar com que todas as nossas vontades venham à tona. Credenciamos instituições que nos representam em diferentes momentos e ao conjunto delas damos o nome de Estado. Se essas instituições se atrasam, erram, ou são injustas, cabe uma assembleia geral para definir o seu destino. O que não podemos é definir por conta própria e individualmente o que é certo e errado.
            Sobre esse tema, um comentário sintetiza a opinião de muitos que são simpatizantes da barbárie contra barbárie: “a imprensa em geral e os direitos humanos estão sempre de plantão, defendendo os criminosos de forma incondicional”. Em contraposição, escrevo algumas reflexões.
Eu não vivi na época das cavernas, em que a lei que valia era a do “olho por olho, dente por dente”; não fui espectador dos programas sensacionalistas exibidos em praça pública para as famílias eurodescendentes no Brasil-colônia: o chicoteamento de cativos no Pelourinho; não assisti aos apedrejamentos descritos na Bíblia, às câmaras de gás nos campos de concentração e às fogueiras de mulheres exóticas consideradas bruxas.  E considero-me muito feliz por não ser testemunha ocular de nenhuma dessas situações. Portanto, a minha defesa não é para os criminosos – julgá-los e puni-los é papel do Estado -; mas, sim, em prol dos cidadãos que também não querem conviver com imagens nefastas que parecem ressurgir do passado e ter que achar que isso é normal.
O delator do Mensalão, Roberto Jefferson, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está com a prisão decretada, mas enquanto o mandado não chega à sua casa ele anda de Harley Davidson sob os olhares da Polícia Federal. Como se não bastasse, seus advogados pedem, judicialmente, autorização para o uso de mais de vinte tipos de medicação e de alimentação balanceada com itens como salmão defumado e geleia real. O que impressiona é o fato de que quando Roberto Jefferson voltava do seu passeio de moto havia uma pessoa o esperando para doar cem reais para a “vaquinha” que ajudará o corrupto a pagar a multa de setecentos e vinte mil reais estipulada pelo Supremo Tribunal Federal. Ninguém o esperava para amarrá-lo no Pelourinho do século XXI. Claro, ele não faz parte do perfil de quem sempre esteve às margens; ontem, amarrados nos troncos, e hoje, nos postes.
           
Por: Fernando Bueno (Tuti)
Especialista em Educação Especial
Mestre de Capoeira

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