terça-feira, 29 de maio de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 05 30

Arroz Quilombola

O arroz vindo da África – em trouxinhas enroladas nos cabelos das negras escravizadas - é diferente: um pouco mais escuro e, assim como o arroz integral, leva um pouco mais de tempo para cozinhar. Por outro lado, tem um sabor peculiar, é cultivado de forma natural (orgânico) e traz, em cada mastigada, 400 anos de história da diáspora negra.
Essa nota é para louvar a Cooperativa Gaúcha Arroz Quilombola, a primeira cooperativa de negros rurais do Rio Grande do Sul  e uma das poucas existentes no Brasil. Seus integrantes são da Comunidade Quilombola São Miguel dos Pretos, localizada no município de Restinga Seca, região central daquele estado.
Vale conferir: www.arrozquilombola.com

Ajeum

            Já que falamos de arroz, vamos falar de Ajeum. Em 1988, a Escola de Samba Unidos da Vila Isabel (RJ) entrou na avenida com um samba-enredo chamado “Kizomba – Festa da Raça”. A composição empolgou a todos os militantes do movimento negro, pois já começava dessa forma: “Valeu, Zumbi; um grito forte dos Palmares, que correu terras, céus e mares, influenciando a abolição...”
Com a inspiração dos grandes poetas, Luiz Carlos da Vila (autor do samba-enredo) descreveu como acontece a Kizomba, a festa do povo, tendo o nome origem nas danças dos negros que resistiram à escravidão. Era congregação, confraternização, resistência. Um chamado à luta por liberdade e por justiça.
No decorrer da letra, uma palavra chama atenção: Ajeum, que significa refeição. O ato de comer faz parte do ritual de várias religiões, inclusive a Católica com a Hóstia Sagrada e o Candomblé com o Ajeum. Existem toques de atabaque e cantigas específicas para a entrada do Ajeum que será colocado ao centro do Terreiro. De acordo com a hierarquia, servem-se todos para partilharem o Axé (energia) dos Orixás.
Com toda a profundidade dissertativa, Kizomba conquistou o primeiro título da história da Unidos da Vila Isabel.

Festival de Dança de Joinville

            O Festival de Dança de Joinville é um dos maiores encontros de dança do mundo. Este ano, a Capoeira estará representada pelo Projeto Capoeira na Escola. A vaga foi conquistada após a escolha criteriosa entre aproximadamente duas mil e quinhentas apresentações. A coreografia “Ponte África-Brasil” será apresentada na segunda quinzena de julho, afinal, dança e arte também são faces da Capoeira.

Roda

            Sábado é dia de roda na Praça Central de Biguaçu, às 10h. Caso chova, a roda acontecerá no Centro Cultural Casarão Born.

Chico, eterno

“Eu sou um advogado dos pobres. Eu os defendo da tristeza.
Meus personagens são feitos para as classes C, D e E.”
Chico Anysio

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Resultados e Fotos do Festival "O Pulo do Gato"

As fotos do Festival "O Pulo do Gato" já estão postadas. Clique na foto abaixo e confira:


Clique na foto para abrir o álbum


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Vem aí: Festival O Pulo do Gato

Coluna Fala Capoeira 2012 05 16

Festival: O Pulo do Gato - 2012

No próximo sábado (dia 19/05), a partir das 09h, no Ginásio Municipal Nagib Sallum, acontecerá o Festival “O Pulo do Gato” – Acrobacias de Capoeira. Seguem abaixo as definições das diferentes modalidades a serem disputadas:
a)    Saltos: execução de saltos acrobáticos de livre escolha, sendo cinco (05) para masculino adulto e três (03) para as outras categorias;
b)    Equilíbrio: execução livre de paradas de cabeça ou de mão num tempo mínimo de três (03) segundos e máximo de dez (10) segundos;
c)    Movimento extraordinário: apresentação de apenas um movimento de média a alta dificuldade, tendo direito a três tentativas (não valem acrobacias básicas e saltos);
d)    Acrobacias Básicas: sequência composta necessariamente na ordem: aú, ponte, parada de cabeça, parada de mão, macaco, s dobrado, pião de mão, pião de cabeça, canivete e meio-relógio, com o tempo máximo de quarenta (40) segundos.
            A entrada é a doação de 01 kg de alimento não perecível.

Dois é demais

            Aquele que já falou mal dos índios, dos percussionistas e capoeiristas, dos negros e dos pobres, indigno até de que pronunciem o seu nome, tem um novo seguidor no JB Foco. Tal qual seu mestre, com linguagem ofensiva, achando que violência é solução para os problemas sociais (citou o caso dos surfistas de ônibus flagrados após o primeiro clássico dizendo que aqueles vandalos deveriam pintar o “rabo” de vermelho e deveriam levar uma “boa surra”), tenta ditar lições de moral até para a Caroline Dieckmann, dizendo: “Carolina, pede para a Playboy reembolsar os danos morais..”, esquecendo ele que existe muita diferença entre contrato formalizado e invasão de privacidade.
            Mas o pior de tudo é quando esse “herdeiro do ditador” divaga sobre o que nitidamente não domina: “o preconceito racial é maior por parte dos próprios negros. Vejam o caso de cantores e jogadores de futebol negros. O primeiro sonho de consumo deles é ter uma mulher branca ao seu lado. Não estou falando que sou contra, não... Mas não valorizam a própria raça. E os demais só se preocupam com cotas de universidades”.
Infelizmente, tive de transcrever essa nojeirada para poder contextualizar àqueles que não têm acesso ao jornal. Com que base esse ser pode afirmar que o preconceito racial é maior por parte dos próprios negros? De qual estudo extraiu isso? Outra: O enquadramento dos negros nos estereótipos de jogador e cantor é típico de gente racista. Quando ele disserta sobre as relações pluriétnicas, esquece-se de que a mulher branca está com o seu par porque quer, e não porque ela também não valoriza a sua “raça”. Ou para ela valorizar a eurodescendência só poderá namorar homens brancos? Como se não bastasse, diz que todos os negros que não são jogadores e cantores não têm mais nada a se preocupar além da luta a favor das cotas.
É muito triste, mas fica o recado ao “colunista”: Meça suas palavras, pois o Movimento Negro está de olho.

Da barata ao kong

O que se pode esperar de um cantor que compõem: “Toda vez que chego em casa, a barata da vizinha tá na minha cama...” e que chora ao cantar para o desastrado e encrenqueiro Presidente dos Eua, George Bush?
A resposta ideal seria nada, mas não, ele consegue fazer pior reforçando os estereótipos relativos ao negro e ainda afirmando: “Existem coisas mais interessantes e mais importantes para gente se preocupar.”.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 05 09

Mais um caso

Essa vai para os que são contrários às cotas como o Arnaldo Jabor: Nos notíciários do final de semana, um médico foi flagrado por xingamentos de cunho racista a uma atendente de cinema em um Shopping no Distrito Federal. Ele afirmou: “Você deveria estar na África cuidando de orangotangos e não lidando com pessoas”.
É só mais um entre milhares de casos que provam o quão “democrático” o Brasil é na questão racial. O médico foi indiciado e, após o início do processo e a divulgação de sua imagem, várias outras pessoas que já haviam sido vítimas dele fizeram coro na justiça.


Comentário ilustre

            Fiquei honrado com os comentários sobre a nossa coluna feitos pelo Embaixador Municipal da Cultura, Professor Joaquim Gonçalves dos Santos, pessoa a quem admiro muito.
            O professor, além de comentar sobre a coluna de semana passada, corrobora com a máxima da Associação Capoeira na Escola de combater todas as formas de discriminação, e ainda afirma a necessidade de união para a produção de materiais didáticos feitos com as devidas correções históricas.
            Aproveito para convidar o Professor Joaquim para apoiar a ideia - lançada através de uma “folha fundamental” na 1ª Semana Afro-Biguaçuense - de aprofundarmos as pesquisas sobre o “Negro em Biguaçu” com posterior publicação de livro.


Dica de filme
 

Nos Estados Unidos na década de 1960, os movimentos civis estavam em efervescência. Foi a década ápice de Martin Luther King e Malcom X, líderes negros e referências mundiais. O estado da Carolina do Sul é conhecido por ter sido o estopim da Guerra Civil Norte-Americana. Por ser o estado com maior concentração de escravos, seus “donos” não aceitavam a imposição do governo de abolir a escravidão e iniciaram o movimento de separatismo.
Nesse contexto - década de 60 e estado Carolina do Sul - é que se desenvolve o filme ”A Vida Secreta das Abelhas”; um drama carregado de emoção que trata de uma menina branca em busca da história de sua mãe. A adolescente criada por uma babá negra foge de seu pai, um sujeito grosseiro, acompanhada por sua babá e chegam à Carolina do Sul, encontrando abrigo numa família produtora de mel.
“Do destino e de sua história, ninguém foge”, é uma frase que resume o filme.



Próximas atividades

·         Festival O Pulo do Gato: dia 19/05, às 09h, Ginásio Nagib Sallum, Biguaçu.
·         Peça Teatral Abolição: dia 19/05, às 21h, Sociedade Novo Horizonte, Avenida Beiramar Norte, Fpolis

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 05 02

Cotas: 10 a 0 no STF

A constitucionalidade da aplicação das cotas raciais para acesso à Universidade foi julgada no Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns advogados se inscreveram como “Amigos da Corte” (Amicus Curiae) para sustentar as teses dos dois lados.
Defendendo o DEM, partido político que impetrou a ação de inconstitucionalidade das cotas (ADPF 186), apenas duas pessoas: uma advogada recém-saída da Faculdade, com visível tom emotivo em sua leitura (isso mesmo: leitura); e uma juíza do Rio Grande do Sul que insistia em afirmar que no Brasil não há discriminação pela cor da pele, mas, sim, pela classe social.
Já os defensores da política de cotas foram sete, com argumentos saídos das oratórias das mais ricas que, para quem é militante, chegavam a arrepiar. Destaque para a fala à Malcom X de Édio Silva Junior, simplesmente histórica.
A Procuradoria Geral da União também fez um discurso motivante na pessoa de Déborah Duprat, trazendo várias reflexões a essa discussão, como por exemplo: “Os contra as ações afirmativas defendem que as cotas para acesso à Universidade devem ter o caráter social e não étnico. Por que, então, não existe o fator social em relação às outras cotas, como a de pessoas com deficiência nas empresas e das mulheres na política? Pensando em cotas sociais, poderiam ter benefício somente pessoas com deficiência que fossem pobres e mulheres que fossem pobres; mas não é assim”.
Como as cotas raciais já acontecem há mais de dez anos no Brasil, devido à autonomia acadêmica prevista na LDB, o argumento de que sua implantação geraria um ódio racial já foi derrubado, bem como derrubada foi a tese de que os cotistas não acompanhariam os estudos e tornar-se-iam profissionais desqualificados.
Por fim, o voto do relator, favorável às cotas, Ministro Ricardo Lewandowski, que durou cerca de duas horas, remeteu a esperança de um País mais igualitário e justo.

Relembrando

            Na semana passada, registramos o adiamento da votação sobre a constitucionalidade do Decreto 4887/2003, que trata sobre a Regulamentação das Terras Quilombolas. No dia 26/04, o Supremo Tribunal Federal declarou constitucional a aplicação de Cotas Raciais na Universidade. Ambos os entraves no STF foram gerados pelo DEM, sempre contrário às questões de alta importância relacionadas ao povo negro.

Dia do Trabalhador

            Aproveitando o gancho do Dia do Trabalhador, a coluna reitera a necessidade da desconstrução da expressão: “O Negro AJUDOU a construir este País”, para postar em seu lugar: “O Negro CONSTRUIU este País”.
Mesmo que sob o jugo da chibata do feitor, tudo que se ergueu no Brasil-colônia – das estradas às igrejas; dos monumentos aos trilhos de trem; das casas aos conventos e etc. – foi fruto do trabalho escravo. Depois das obras maiores dos africanos e descendentes é que vieram as “ajudas” de outras etnias.

Aniversário de Biguaçu

De sexta a domingo (04 a 06), na Praça Central, a Associação Cultural Capoeira na Escola estará presente - por meio de um estande com acarajé, produtos diversos e jogos eletrônicos de Capoeira – nas comemorações do aniversário de Biguaçu. Haverá roda de Capoeira no sábado (05) com apresentação de Puxada de Rede e Maculelê, às 10h. Participe.