terça-feira, 29 de março de 2011

Coluna Fala Capoeira 2011 03 28

Revolta dos Búzios

A presidenta Dilma Rousseff sancionou, em quatro de março último, a Lei 12.391, que determina a inscrição dos nomes dos líderes da Revolta de Búzios no Livro de Aço dos Heróis Nacionais - exposto permanentemente no Panteão da Pátria e da Liberdade, localizado no Eixo Monumental, Praça dos Três Poderes, na capital do Brasil -. Enforcados em praça pública, João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino Santos Lira e Luís Gonzaga das Virgens e Veiga são símbolos do movimento que reviu os ideais de liberdade e igualdade no País.
A Revolta ocorreu em 1798, época em que os princípios iluministas e a independência dos Estados Unidos influenciavam fortemente os ideais libertários dos brasileiros, que contrastavam com a precária condição de vida do povo negro. O grande diferencial do movimento foi a articulação de grupos mais pobres da população baiana para defender propostas que realmente os representassem.

Conheça os heróis da Revolta dos Búzios


João de Deus do Nascimento (1761 – 1799)
Filho de mulata alforriada com português, João de Deus nasceu em Salvador. Inconformado com a situação de miséria da colônia, participou de reuniões secretas, juntamente com estudantes, comerciantes, intelectuais, soldados e artesãos. Ao tomar conhecimento da Revolução Francesa, passou a discutir os ideais liberais e as possibilidades de sua aplicação no Brasil.
Lucas Dantas de Amorim Torres (1775 – 1799)
Pardo, escravo liberto, soldado e marceneiro, Lucas Dantas foi o responsável pela reunião de representantes das mais diversas classes sociais para debater sobre a liberdade e a independência do povo baiano.
Manuel Faustino Santos Lira (1781 – 1799)
Filho de escrava liberta e pai desconhecido, Manuel Lira também nasceu em Salvador. Foi um dos primeiros suspeitos pela autoria de panfletos anônimos que conclamavam a população a defender a “República Bahiense”.
Luís Gonzaga das Virgens e Veiga (1763 – 1799)
Soldado, negro, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga era o mais letrado entre os líderes da revolta. Descendia de portugueses e crioulos. Sentiu e expressou o sentimento de revolta contra o preconceito de cor dominante no seu tempo. Foi autor do mais polêmico manifesto feito durante o movimento.

Orientações de Mestre Bimba

*Gingar sempre;
*Esquivar sempre;
*Jogar sempre próximo ao parceiro;
*Todos os movimentos devem ter objetivo;
*Conservar, no mínimo, uma base no solo;
*Obedecer ao ritmo do berimbau;
*Respeitar as guardas vencidas; e
*Zelar pela integridade física e moral do outro jogador.

História da África

Está disponível no site da UNESCO (unesco.org.br) o download da coleção sobre História da África em Português. São oito capítulos que dissertam sobre o continente de origem da humanidade desde a sua pré-história até aos dias atuais.

terça-feira, 22 de março de 2011

Coluna Fala Capoeira 2011 03 21

Obama e a Capoeira

            Comprovadamente, a Capoeira é uma grande embaixadora do Brasil. As crianças da Cidade de Deus, comunidade carioca, transferiram muita emoção na recepção à família Obama, e em troca elevaram suas autoestimas ao ponto de aquela apresentação ser crucial para a definição de seus futuros. E a Capoeira é o eixo.

O Crime de Sharpeville

(...) Há 51 anos (21 de março), 69 crianças, mulheres e homens negros foram assassinados em praça pública pelo exército sul-africano no bairro de Sharpeville, na cidade de Johannesburgo. Motivo: terem saído às ruas, pacificamente, para reivindicar a extinção da Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação com o registro dos locais por onde lhes era permitido circular. ‘O Massacre de Sharpeville’ motivou a instituição do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Uma data que o Brasil, a maior Diáspora Africana do continente americano, tem razões, infelizmente, para relembrar.
O Governo Brasileiro, em articulação com a sociedade civil organizada, tem dado passos largos para desestabilizar a mentalidade que constrói tragédias como a de Sharpeville. As políticas de ações afirmativas, que elevaram consideravelmente o número de negros e negras nas universidades públicas, e a sanção do Estatuto da Igualdade Racial, marco histórico para a construção da igualdade de oportunidades entre negros e não-negros, são dois dos mais recentes passos da política de inclusão para o acesso aos bens econômicos e culturais do País. (...)
O caldo de cultura que baseia ataques racistas à identidade de descendentes de africanos está, sem sombra de dúvida, entrelaçado com o perfil dominante das mortes violentas no País, que vitimam, em sua maioria, jovens negros, segundo estudos sobre violência urbana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O mesmo caldo que motivou o assassinato dos jovens sul-africanos. (...).

* Trecho do artigo de Elói Ferreira de Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares, publicado originalmente no Correio Braziliense, sob o título: “O crime de Sharpeville”.

Racismo Científico*

          No século XIX, com o colapso previsível da escravidão, preocuparam-se as elites em dissolver o regime servil sem comprometer as estruturas produtivas, baseadas na monocultura e no latifúndio. Refletiam também, sobre como lidar com o fim de uma sociedade em que as hierarquias sociais estavam firmemente assentadas no estatuto de pureza de sangue e na escravidão, que excluíam da cidadania todos os não-europeus, aqueles que não se auto consideravam brancos, fidalgos, católicos, ricos e seus agregados.  
          Com o auxílio das ciências, a solução deste dilema deu-se através da racialização do diferente. Afirma Liliam Schwarcz que foi a partir do Instituto Politécnico, Museus Etnográficos, Faculdades de Medicina e de Direito que começou a ser difundido no país o racismo científico de Lapouge, Lambroso e Gobineau.
            O problema-negro deixava de significar a superação da escravidão para se tornar a remoção de um obstáculo ao progresso e a civilização da nação brasileira.
            Nesta visão, ‘Raça’ deixou de estar relacionada à fé e a família para ser um instrumento de classificação de espécie, em especial dos seres humanos, tendo como fundamento a biologia (Schwarcz, 1993).

Trecho da Monografia de Fernando Bueno:
 “A Origem da Capoeira em Florianópolis” (1997).

terça-feira, 15 de março de 2011

Coluna Fala Capoeira 2011 03 14

Bantu
           
Quando os pesquisadores afirmam que os Bantus foram a maior população de negros vindos para o Brasil fica faltando em grande parte das explanações a especificação geográfica e cultural dessa população. Bantu é um grupo etnolinguistico subsaariano (abaixo do Deserto do Saara) com mais de quatrocentas subdivisões.
            Segundo o pesquisador Nei Lopes, a palavra ‘BANTU’ é composta por ‘NTU’, que quer dizer ‘pessoa’; e ‘BA’, que quer dizer ‘coletivo’, ‘plural’. Logo, BANTU significa ‘coletivo de pessoas’, ‘população’, ‘grupo de características semelhantes’.

Fundação Palmares

O novo Presidente da Fundação Palmares é Elói Ferreira de Araújo, ex-titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). A nomeação foi publicada no Diário Oficial (02/03) para a substituição de Zulu Araújo, que deixa o cargo após oito anos de Fundação Palmares, quatro dos quais como Presidente.

Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes (CEPA)

O  Cepa é um órgão colegiado, de caráter permanente, com a participação do governo e sociedade civil, com finalidade de promover a igualdade, a participação e elaboração de políticas públicas de promoção, desenvolvimento e a defesa dos direitos humanos, garantindo o exercício da cidadania das populações negras no Estado.
As discussões para a criação do Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes tiveram início no segundo semestre de 2000, sendo sua criação consolidada em 2001 como parte comemorativa do centenário de Antonieta de Barros.
Entendendo que as discussões deveriam ser realizadas no interior das entidades do movimento social negro, a Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros mobilizou o Fórum das Entidades Negras de Santa Catarina que, em reunião realizada no Centro de Ciências da Educação - FAED/UDESC deliberou por participar, junto à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania na elaboração da minuta de criação do Conselho.
Esta participação se concretizou com a realização de grupos de trabalho em reuniões periódicas culminando com a produção de documentos fundadores do texto final. O Conselho foi criado pela lei 11.718 de 16 de maio de 2001.
No dia 10 de março, ocorreu nova eleição para a Diretoria do CEPA e a Associação Cultural Capoeira na Escola está representada por Dagmar Pereira assumindo o cargo de 1ª Secretária do Conselho. A solenidade de posse será na Assembleia Legislativa em data a ser informada.

Aniversário do Projeto Capoeira na Escola
           
No ultimo sábado, o Projeto Capoeira na Escola comemorou os quinze anos de atuação em Biguaçu. A chuva diminuiu o número de participantes, mas o clima do Centro Cultural Casarão Born fez com que a roda fosse das mais animadas. Após o lanche coletivo, a comemoração fechou em alto estilo ao som (violão e voz) de Neném Maravilha. Parabéns a todos que fizeram e fazem parte dessa história de sucesso.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Breve reflexão sobre os resultados dos grandes carnavais do Brasil

Quando eu me chamar Saudade

Roberto Carlos no Rio de Janeiro e o Maestro João Carlos Martins em São Paulo: até que enfim, o Brasil começa a homenagear seus destaques positivos ainda em vida.
Sobre o Maestro, sua vida pela música é fascinante; seu exemplo de superação aos obstáculos; seu trabalho social na Fundação Bachiana – que atende crianças e jovens em situação de risco social em São Paulo – fazem qualquer um se emocionar. Já o cantor e compositor Roberto Carlos encanta gerações mundo a fora e mereceu o enredo. Obviamente, tendo a Globo, canal que produz o especial de fim de ano com as mesmas músicas durante anos, como uma das grandes patrocinadoras do Carnaval do Rio de Janeiro, seria garantida uma ‘atenção especial’ dos jurados.
Mantendo a regra de homenagens pós-morte, outro grande destaque foi Nelson Cavaquinho, sambista da melhor qualidade que já previra homenagens depois de sua partida (segue letra abaixo). Pelo samba-enredo da Mangueira; pela obra de Nelson Cavaquinho; pela comissão de frente inovadora com os malandros realizando saltos de “Le Parkour” na favela cenário, é que considero - ciente de minha utopia - que um empate com a Beija-flor tornaria ainda mais justa a valorização dos ídolos brasileiros.

Sei que amanhã quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro, um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora
‘Me dê’ as flores em vida
O carinho, a mão amiga
Para aliviar meus ‘ais’
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.

Música: Quando eu me chamar Saudade
Autor: Nelson Cavaquinho

terça-feira, 1 de março de 2011

Coluna Fala Capoeira 2011 02 28

Etnorracial e Étnico-racial
Ocorre uma confusão por conta da reforma ortográfica em relação às expressões ‘etnorracial’ e ‘étnico-racial’. Assim, fomos pesquisar para repassar a informação correta.
A palavra ‘Etno’ não tem valor quando escrita sozinha, ou seja, é somente um prefixo. Por isso, a palavra ‘etnorracial’ é escrita desta forma, já que sua subsequente inicia-se com ‘r’. Caso iniciasse com ‘h’, usar-se-ia o hífen.
Já a expressão ‘étnico-racial’, mesmo com a reforma ortográfica, permanece com hífen, pois é regida pela regra dos compostos comuns, ou seja, são dois adjetivos e, portanto, devem ser escritos separados e com hífen.

Senador Magno Malta
            Num discurso no Senado, o Senador Magno Malta (Espirito Santo) enalteceu a importância das lutas como ferramenta contra as drogas e as bebidas alcoólicas. Falou com propriedade dos lutadores brasileiros de expressão internacional que não recebem a valorização devida em seu próprio país. Aproveitou para rechaçar as frequentes propagandas de cerveja com jogadores de futebol e, inclusive, o técnico da seleção, afirmando ser uma atitude gananciosa e de referência negativa aos jovens.
Por fim, soltou a pérola abaixo, como retrato de sua personalidade de lutador que fez com que chegasse ao Senado Brasileiro:
“O medo eu conheço só de nome, pois nunca alguém me apresentou.”

Ziraldo e Bloco de Carnaval causam polêmica
O bloco carnavalesco "Que m. é essa?" (Rio de Janeiro) assumiu uma posição política bastante questionável neste carnaval. O bloco faz galhofa e questiona junto com Ziraldo o parecer do CNE - Conselho Nacional de Educação - contra expressões racistas do escritor Monteiro Lobato nos livros infantis. Em represália, Ziraldo desenhou para o bloco uma camiseta em que Lobato está abraçado a uma mulher negra. Questionado em entrevista, Ziraldo disse: "A gente pratica um racismo sem ódio".
A escritora Ana Maria Gonçalves, autora de "Um defeito de cor", não gostou nem um pouco da declaração de Ziraldo. E muito menos do tema escolhido pelo Bloco para o carnaval deste ano. Em carta aberta ao cartunista, postada num blog, Ana Maria mostrou seu descontentamento com o tema:
"A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justifica? Quem te disse que racismo sem ódio, mesmo aquele com o "humor negro" de unir uma mulata a quem grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato, sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é admirado e defendido até hoje", diz um dos trechos da carta.
Em 1928 Monteiro Lobato lamentou que os brancos brasileiros não tivessem capacidade de fundar aqui uma Ku Klux Klan.
Um grupo de cidadãos antiracistas está se mobilizando para protestar contra essa afronta travestida de alegria carnavalesca ao longo do trajeto do bloco no próximo sábado em Ipanema, Rio de Janeiro.

Aniversário do Projeto Capoeira na Escola
No dia 11 de março, o Projeto Capoeira na Escola completa 15 anos de atuação em Biguaçu. A comemoração será na Praça Central no dia 12 de março (sábado) com roda e lanche comunitário, às 10h.

GEMA
Parabéns ao Bloco Liberdade - professores Marcos Canetta e Marcos Moita - pela criação de seu Grupo de Estudos Mente Aberta (GEMA). O eixo é capacitar os jovens para o enfrentamento aos obstáculos da desigualdade social através da articulação ideológica.