sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Atualização 2021 08 13

Mais do mesmo

        Em 2014, Roberto Jefferson foi tema de um pequeno texto que escrevi. Hoje, ele está novamente nos noticiários. Vale uma releitura:

A volta do Pelourinho

 Na época do alvoroço da votação sobre a Constitucionalidade das Cotas nas Universidades públicas do Brasil eu ouvi e li muitos absurdos. Quem participou dos debates conheceu um pouco mais da natureza humana naquele momento. Hoje, face às frequentes cenas divulgadas nas diferentes mídias, de pessoas amarradas em postes, parafraseio o escritor português, Alexandre Herculano, pois quanto mais aprofundo-me no conhecimento dos sentimentos e dualidades dos homens mais estimo os bichos.

            Que a nossa Justiça é lenta é verdade, mas uma máxima do Direito é imaculada para pessoas com certo nível de sanidade: “um erro não justifica outro”. Já fui assaltado e furtado, e, de fato, a vontade que surge é a de externar a agressividade. Porém, somos humanos, e pelo pacto social baseado na ética e na moral, não podemos deixar com que todas as nossas vontades venham à tona. Credenciamos instituições que nos representam em diferentes momentos e ao conjunto delas damos o nome de Estado. Se essas instituições se atrasam, erram, ou são injustas, cabe uma assembleia geral para definir o seu destino. O que não podemos é definir por conta própria e individualmente o que é certo e errado.

            Sobre esse tema, um comentário sintetiza a opinião de muitos que são simpatizantes da barbárie contra barbárie: “a imprensa em geral e os direitos humanos estão sempre de plantão, defendendo os criminosos de forma incondicional”. Em contraposição, escrevo algumas reflexões.

Eu não vivi na época das cavernas, em que a lei que valia era a do “olho por olho, dente por dente”; não fui espectador dos programas sensacionalistas exibidos em praça pública para as famílias eurodescendentes no Brasil-colônia: o chicoteamento de cativos no Pelourinho; não assisti aos apedrejamentos descritos na Bíblia, às câmaras de gás nos campos de concentração e às fogueiras de mulheres exóticas consideradas bruxas.  E considero-me privilegiado por não ser testemunha ocular de nenhuma dessas situações. Portanto, a minha defesa não é para os criminosos – julgá-los e puni-los é papel do Estado -; mas, sim, em prol dos cidadãos que também não querem conviver com imagens nefastas que parecem ressurgir do passado e ter que achar que isso é normal.

O delator do Mensalão, Roberto Jefferson, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está com a prisão decretada, mas enquanto o mandado não chega à sua casa ele anda de Harley Davidson sob os olhares da Polícia Federal. Como se não bastasse, seus advogados pedem, judicialmente, autorização para o uso de mais de vinte tipos de medicação e de alimentação balanceada com itens como salmão defumado e geleia real. O que impressiona é o fato de que quando Roberto Jefferson voltava do seu passeio de moto havia uma pessoa o esperando para doar cem reais para a “vaquinha” que ajudará o corrupto a pagar a multa de setecentos e vinte mil reais estipulada pelo Supremo Tribunal Federal. Ninguém o esperava para amarrá-lo no Pelourinho do século XXI. Claro, ele não faz parte do perfil de quem sempre esteve às margens; ontem, amarrados nos troncos, e hoje, nos postes.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário