terça-feira, 27 de março de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 03 28

A culpa sempre é do morro

            Sequestros relâmpagos; explosões em caixas eletrônicos; estupros e etc.; esse cenário atual da Grande Florianópolis suscitou o debate no principal noticiário da televisão. Especialistas em segurança pública, ex-esportistas e as chefias do poder público (prefeituras e polícias), comentam sobre o que gera tanta violência.
            O senso comum desses comentaristas baseia-se em dois pontos: o primeiro é a afirmação de que com a propagação da qualidade de vida existente em Florianópolis através da imprensa muitas pessoas mal intencionadas vieram morar aqui - detalhe enfatizado por ambos: nos morros! -; o segundo ponto é o de que o efetivo policial é insuficiente para combater o tráfico de drogas – novamente - nos morros, fator motivacional da escalada da violência.
            Após a “Abolição da Escravidão”, o morro e as margens da cidade (daí a palavra ‘marginalização’) foram os locais de moradia que sobraram aos ex-cativos. Desde essa época, é comum ouvir a transferência de responsabilidade dos efeitos colaterais da discrepância social aos menos favorecidos.
Será que todos os que vêm morar aqui na Grande Florianópolis são criminosos e vão morar nos morros? É óbvio que existe tráfico no morro e nas comunidades carentes, principalmente porque muitos moradores do asfalto (classes mais altas) vão lá comprar, mas as incursões policiais devem ser feitas somente nos locais dos que oferecem ou também em Jurerê Internacional e no Bosque das Mansões com as várias festas regadas à cocaína e maconha?
Por fim, não será somente com o aumento do efetivo policial que os problemas da violência serão resolvidos, assim como a culpa não deve ser só do morro, mas de toda a sociedade que contribui para a desigualdade. O combate à corrupção é um grande passo e a Educação é outro, mas como falar em Educação num País em que o piso salarial da classe é R$ 1.451,00 por 40 horas de trabalho semanal?

A Gangue das Loiras

            Mulheres acima de qualquer suspeita - bem arrumadas; maquiadas; perfumadas; entre 20 e 30 anos de idade; aparentando ser da classe média -, muito longe do estereótipo do criminoso, aterrorizam a cidade de São Paulo. São mais de cinquenta sequestros e uma infinidade de assaltos em estacionamentos de shoppings e arrastões em condomínios de luxo.
            Devem morar nos morros de Floripa...

Próximas atividades

·         Roda na Avenida Beiramar de São José e Aniversário do Instrutor Chuveiro, às 16h, sábado (31/03);
·         Roda da Vela, dia 05/03/2012, às 20h (CAM). O jogo à luz de vela gera um clima singular e rústico, lembrando as senzalas de outrora. Haverá distribuição de canjica.
           

terça-feira, 20 de março de 2012

Eu já joguei Capoeira...

Coluna Fala Capoeira 2012 03 21

Inversão de valores

            Este caso aconteceu em Curitiba (PR): uma senhora de 84 anos pediu para que um parente atualizasse os valores, anotados numa caderneta, de uma dívida contraída há 50 anos, pois gostaria de pagar. Localizou o credor e, enfim, pagou cento e cinquenta reais.
            O que me inquieta são os comentários desse fato quando afirmam que a atitude da devedora é uma prova de que ainda existem pessoas honestas no mundo.
Dever por 50 anos é sinal de honestidade?
Lembrei-me de uma frase de Mestre Pastinha:
“Pratico a verdadeira Capoeira Angola e aqui
os homens aprendem a ser leais e justos.
A lei de Angola que herdei de meus avós é a lei da lealdade (...)”

Calouro

Provando que a deficiência pode ser um limitador, mas nunca um sinônimo de incapacidade, Gabriel Nogueira conseguiu entrar na Faculdade de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (RS).
Gabriel tem síndrome de Down, mas o afeto familiar e a inserção no ensino regular fizeram dele um vencedor e um grande exemplo para a sociedade. O agora calouro tem 24 anos, é faixa-preta de Taekwondo e namora há dois anos.

Dia de Luta Contra a Discriminação Racial

Hoje, 21 de março, é mais um dia de recordação do Massacre de Shaperville (África do Sul). Em 1960, vinte mil pessoas protestavam contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão para poder transitar em locais pré-determinados. A polícia abriu fogo nos civis protestantes e desarmados, matou 69 e feriu outros 186.
A propósito, o Indiano líder pacifista, Gandhi, teve um entrave com essa mesma polícia sobre o uso do passe. A cena forte está no filme sobre sua biografia.
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o 21 de Março como o Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial.

Roda: “Eu já joguei Capoeira...”

Em algum momento, nos 16 anos do Projeto Capoeira na Escola em Biguaçu, você ajudou a construir essa história. Talvez tenha sido:
- na S.R 17 de Maio, local do começo de tudo;
- nas idas às rodas de sexta-feira à noite, em Floripa;
- nas Rodas da Madrugada;
- nas buscas de verga em Luas minguantes;
- nas rodas na Praça e na conquista do concreto polido em forma de círculo;
- na gravação de nosso CD e na publicação de nosso livreto;
- numa das idas ao Rio de Janeiro ou à Bahia;
- na presença de grandes Mestres, como: João Pequeno, Pelé do Tonel, Gildo Alfinete, Nenel, Boinha, Cafuné, Vuê, Mudinho, Pé-de-Chumbo, Ciro e tantos outros; ou, talvez, em todos esses e muitos outros momentos.
            Em busca de rever os escritores da pequena e bela história da Capoeira em Biguaçu é que a Associação Cultural Capoeira na Escola convida-o para a Roda: “Eu já joguei Capoeira...”
Será no Centro Cultural Casarão Born (Centro-Biguaçu), às 19h do próximo sábado (24/03).

terça-feira, 13 de março de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 03 14

Direito à consulta

            Está acontecendo em Brasília o encontro para a determinação das diretrizes para aplicação no Brasil da Convenção 169, elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essa convenção trata da atribuição do direito de serem consultadas as tribos indígenas e aldeias quilombolas e de remanescentes quando da elaboração de políticas públicas que as tenham como meta.
Ante tarde do que nunca, a partir de agora, são reconhecidas as aspirações das comunidades tradicionais em assumir o controle de suas próprias instituições, formas de vida e desenvolvimento, levando em consideração seu histórico e ancestralidade.

Infelizmente, Hitler vive

            Sob a alegação de que a Alemanha estava tomada por Judeus que “roubavam” seus empregos e moradias, e que impediam o crescimento do país, Hitler, com o seu poder de persuasão, lavou o cérebro dos soldados nazistas e deu início ao genocídio como solução ao problema dos imigrantes.
            Hoje, a Europa vive um momento de muita instabilidade econômica – vide a beira da falência da Grécia – e a União Europeia (UE) fez renascer o líder xenofóbico através de uma propaganda televisiva. Nela, uma mulher branca vestida como a protagonista do filme “Kill Bill”, com um uniforme amarelo e azul (as cores da UE), caminha num galpão quando é ameaçada por lutadores de Kung fu, de Capoeira e de Calaripayattu, arte macial indiana.
A protagonista então se multiplica em várias, formando um círculo ao redor dos agressores (representantes de países componentes do BRICs) que desistem da luta. Após a debandada dos adversários, ela e seus clones transformam-se no símbolo da UE. “The more we are, the stronger we are” (algo como “quanto mais nós somos, mais fortes seremos”), diz o lema da campanha.
Após muita polêmica, a propaganda foi tirada do ar e a União Europeia, como um João-sem-braço, pediu desculpas e lamentou a interpretação “errada”.

Atualização monetária

            Por qual quantia era vendido um escravo no Brasil?
Partindo dos documentos históricos e da literatura encontrados sobre a Escravidão chega-se até ao valor de 240 mil réis. Cada quatro mil réis correspondiam a uma libra esterlina, ou seja, 60 libras esterlinas. Fazendo a atualização, essa libra esterlina da escravidão valeria hoje 56 vezes mais. Assim, 56 vezes 60 igual a 3360 libras atuais. Na cotação de hoje, a libra esterlina tem o valor médio de R$ 3,00. Para finalizar, 3360 vezes R$ 3,00 é igual a R$ 10.080,00.
Na África, 40% dos negros morriam entre o ponto em que eram capturados e o litoral, onde eram vendidos aos traficantes. Nos navios negreiros, devido às péssimas condições de saúde e alimentação, cerca de 10 a 15% morriam na travessia que durava cerca de dois meses sobre o oceano. Como chegaram ao Brasil cerca de cinco milhões de escravos, pelos dados anteriores, percebe-se que morreram mais cinco milhões nesse nefasto período de nossa história.
Para pesquisar mais é indicado o sítio de atualização monetária www.globalfinancialdata.com, indicado por Laurentino Gomes no livro 1808.

terça-feira, 6 de março de 2012

Coluna Fala Capoeira 2012 03 07

Aniversário I

No início da década de 1980, existiu um trabalho de Capoeira em Biguaçu. Foi desenvolvido pelo, hoje, Mestre Pinóquio. As aulas aconteceram na S.R 17 de Maio e na sede do Biguaçu Atlético Clube (BAC) durante aproximadamente três anos. Após esse período, a Capoeira no município ficou adormecida por mais de 10 anos. Em onze de março de 1996, o Projeto Capoeira na Escola inicia as suas primeiras aulas na S.R 17 de Maio, e de lá para cá são dezesseis anos ininterruptos de muita capoeiragem em Biguaçu.

Aniversário II

            De acordo com os registros da Associação Cultural Capoeira na Escola, cerca de seis mil pessoas já experimentaram a prática de Capoeira nesses dezesseis anos, o que se torna algo muito notável num município com 60 mil habitantes – 10% da população.
            O número de pessoas descrito acima só foi alcançado pelo uso da didática constantemente atualizada; pelos intercâmbios com grandes Mestres da Velha-Guarda; pela motivação dos educadores; mas principalmente pelo apoio do poder público. Devido à neutralidade da diretoria da Associação é que, mesmo mudando as gestões, o Projeto Capoeira na Escola perpetua o lema: "Entre o berimbau e o caderno, a Capoeira formando cidadãos".

Aniversário III

Para comemorar o aniversário de dezesseis anos, o Projeto Capoeira na Escola convida a comunidade em geral para o encontro na Praça Central de Biguaçu no próximo sábado (10/03), às 10h, com roda de Capoeira, Maculelê, Samba-de-roda e confraternização.
Além dessa atividade, no mês de março será realizada a roda "Eu já joguei Capoeira...", um reencontro de ex-alunos com o trabalho atual. Aguarde informações.

História: O Mercado de Valongo

            O maior entreposto negreiro das Américas sumiu do mapa sem deixar vestígios. Sua localização é ignorada nos mapas de ruas e nos guias turísticos do Rio de Janeiro. Situada entre os bairros da Gamboa, do Santo Cristo e da Saúde, a antiga Rua do Valongo até mudou de nome: chama-se Rua do Camerino. Ao final dela, em direção à Praia Mauá, uma ladeira chamada Morro do Valongo, sem nenhuma placa, monumento ou explicação, é a única referência geográfica que restou. É como se a cidade, de alguma forma, tentasse esquecer o velho mercado negreiro e a mancha que ele representa na História do Brasil. Esforço inútil, porque bem ali perto fica o Sambódromo, onde, em todo o Carnaval, ao menos uma escola insiste em lembrar que a escravidão faz parte da memória dos cariocas e de todos os brasileiros.

Fonte: 1808 – Laurentino Gomes