quinta-feira, 22 de junho de 2017

Viva o Mestre Boinha, camará...

Maracangalha é o Céu?

No meio de uma das aulas da manhã, meu aluno Tarzan me liga. Como não pude atender, retorno em seguida para levar uma rasteira de uma informação triste. Ainda cambaleante, ligo para o Mestre Cafuné para prestar condolências e buscar forças em outro veterano Mestre. Do papo com esse pensador ficou o seguinte:
“Nosso Mestre Boinha descansou.
Para nós, fica a saudade, mas para ele foi um sofrimento que possivelmente terminou. Pelo egoísmo, gostaríamos de sua presença constante, só que nem tudo é como queremos, e viver como ele estava vivendo, sem poder estar pleno na Capoeira e com a saúde muito abalada, estava sendo um martírio.
Agora, Tuti, quando fizerem uma roda de Capoeira Regional, cantem "A Iúna é mandingueira quando tá no ‘bebedô’...” para saudar nosso amigo, a quadra que ele tanto gostava.”.
            Mestre Cafuné me jogou para cima e eu pude lembrar os momentos bons com o Mestre Boinha: os sambas no Nordeste de Amaralina até o sol raiar; a primeira vez que vi aquele senhor fazendo os balões da cintura desprezada; as inúmeras vezes que veio a Santa Catarina; a relação dele com nossas crianças e com as pessoas com deficiência, as quais tinha um carinho especial (Raposa ainda me perguntou por ele esses dias...); a sua história inicial na Capoeira, quando sentiu uma desaprovação em uma roda de rua de Salvador pelo fato de ser branco e depois teve a aceitação de Mestre Bimba para ser seu aluno; a participação em nossa ‘Noite do Conto’ em que descreveu a tristeza de não ter conseguido jogar Capoeira para que seus pais pudessem ver; as suas falas emocionadas retratando todo o amor pelos ensinamentos de Mestre Bimba; as gargalhas contagiantes... tanta coisa boa!
            Devo muito ao Mestre Boinha, inclusive o meu reconhecimento como Mestre de Capoeira foi um movimento iniciado por ele. Tal grande era nossa amizade que ele dizia que, se preciso fosse, ele viria de bicicleta de Salvador até Biguaçu.
            Lá foi ele... com o braço levantado e cantando “Eu vou pra Maracangalha, eu vou...” enquanto eu, com essas frases tortas e com a auto-promessa de lutar cada vez mais pela Capoeira, faço a minha catarse para vencer o medo de não ter mais a sua presença física tão importante para mim.
Viva o Mestre Boinha, camará...







Um comentário: